Benedita da Silva
Nasceu no dia 11 de março de 1942, no hospital Miguel Couto - RJ, filha da lavadeira Maria da Conceição e do pedreiro, e lavador de carros José Tobias, na época moradores da favela da praia do Pinto, no Leblon. Esta favela foi destruída por um incêndio nos anos 60, e deu lugar ao Condomínio Residencial Selva de Pedra.
Bené, então recém nascida foi morar no morro chapéu Mangueira, no leme. Com 14 irmãos, tinha que trabalhar para ajudar no sustento da família: vendeu limão e amendoim, trabalhou em fábricas e entregava roupas para sua mãe.Em 1965 foi indicada para representar o bairro de Copacabana num concurso de mulheres sambistas, promovido pela prefeitura da cidade, tendo sido eleita a miss IV Centenário, em comemoração ao aniversário da cidade.Na década de 60, converteu-se à religião protestante, sendo devota da igreja Assembléia de Deus. Na década de 60 e 70, durante o período de ditadura militar, Bené juntou-se à outras mulheres do Chapéu Mangueira para pedir melhores condições de vida à comunidade favelada, e começaram a interpelar as ações da polícia no lugar, fundaram então o departamento feminino da Associação de moradores do Chapéu mangueira.Em 1975, aquela pioneira organização de mulheres faveladas articulou-se com o Centro da Mulher Brasileira para desenvolver um trabalho em conjunto, mulheres do morro e mulheres da classe média carioca.Benedita da Silva, conciliando trabalho e estudo, graduou-se em serviço social no ano de 1982. Viúva, casou-se com Agnaldo Bezerra dos Santos - O BOLA - importante líder comunitário que morreu em 1988.Articulada ao Movimento de Mulheres, ao Movimento negro e aos Movimentos de Favelas, Benedita elegeu-se vereadora nas eleições municipais de 1982, através do PT - Partido dos Trabalhadores. A partir daí Benedita da Silva entrou para a história ao ser eleita a primeira mulher negra a ocupar vagas no legislativo brasileiro, vereadora, deputada federal, deputada constituinte, Senadora Federal, Vice-Governadora do Estado do RJ, em 1998 e recentemente foi Ministra de Estado.É de sua autoria o projeto que inscreveu Zumbi dos Palmares no panteão dos Heróis nacionais, fazendo do dia 20 de novembro o "Dia Nacional da Consciência Negra".
Fonte:
Dicionário Mulheres do Brasil - de 1500 até a atualidade Biográfico e ilustrado. Jorge Zahar editor, 2000.
Elisa Lucinda
Nascida em dois de fevereiro, em Vitória do Espírito Santo, jornalista, professora, poeta e atriz. Reconhecida por seus espetáculos, recitais e workshops apresentados no Brasil e exterior; por seus trabalhos na área de recursos humanos junto a diversas empresas e instituições como Petrobrás, Banco Real e por seus trabalhos na televisão; onde recentemente viveu a cantora Pérola em "Mulheres Apaixonadas", novela de Manoel Carlos no horário nobre na Rede Globo; e no cinema, como protagonista ao lado da amiga e atriz Zezé Polessa, no filme "Alegres comadres" lançado no Festival BR de Cinema 2003.
Elisa, recém-chegada de sua turnê de recitais em Barcelona, ainda mantém a "Escola Lucinda de Poesia Viva" no Rio de Janeiro, onde ensina interpretação teatral da poesia seguindo o lema: 'Falando poesia sem ser chato'. A notável Capixaba vem ao longo de sua carreira presenteando o público com seu jeito peculiar e natural de falar poesia sem representar o verso mas apresentando as emoções que as palavras podem proporcionar...
compartilhe com Elisa Lucinda de seus versos!
Brindemos à vida!
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LIBAÇÃO
É do nascedouro da vida a grandeza. É da sua natureza a fartura a proliferação
os cromossomiais encontros, os brotos os processos caules, os processos sementes
os processos troncos, os processos flores, são suas mais finas dores
As conseqüências cachos, as conseqüências leite, as conseqüências folhas
as conseqüências frutos, são suas cores mais belas
É da substância do átomo
ser partível produtivo ativo e gerador
Tudo é no seu âmago e início,
patrício da riqueza, solstício da realeza
É da vocação da vida a beleza
e a nós cabe não diminuí-la, não roê-la
com nossos minúsculos gestos ratos
nossos fatos apinhados de pequenezas,
cabe a nós enchê-la, cheio que é o seu princípio
Todo vazio é grávido desse benevolente risco
todo presente é guarnecido do estado potencial de futuro
Peço ao ano- novo
aos deuses do calendário
aos orixás das transformações:
nos livrem do infértil da ninharia
nos protejam da vaidade burra da vaidade "minha" desumana sozinha
Nos livrem da ânsia voraz
daquilo que ao nos aumentar nos amesquinha
A vida não tem ensaio
mas tem novas chances
Viva a burilação eterna, a possibilidade:
o esmeril dos dissabores!
Abaixo o estéril arrependimento
a duração inútil dos rancores
Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos:
a vida inédita pela frente
e a virgindade dos dias que virão!
Elisa Lucinda
Rio, 18 de dezembro de 1997.
Do livro "Eu te Amo e Suas Estréia"
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Principais trabalhos:
- Televisão: Kananga do Japão (manchete); A Escrava Anastácia (Manchete); Sangue do meu sangue (SBT); Mãe de Santo (Manchete); Araponga (Globo); Você Decide (Globo) e o seriado "Mulher" (Globo). Novela de Manoel Carlos "Mulheres Apaixonadas" (Rede Globo).
- Cinema: A Fábula da Bella Palomeira (Ruy Guerra); A Morte da Mulata (Marcel Cordeiro); Gregório de Mattos (Ana Carolina); Seja o que Deus quiser - Murilo Sales; A Causa Secreta - Sergio Bianchi; O Testamento do Senhor Napomuceno (produção luso-brasileira - Francisco Manso); Terra de Deus (Iberê Cavalcante); Referência - Ricardo Bravo; As Alegres Comadres - (Leila Hipólito);
- Teatro: Rosa, um Musical Brasileiro e Causa da Liberdade, ambos sob direção de Domingos de Oliveira); Bukowsky, Bicho Solto no mundo (direção de Ticiana Stuart); A Serpente (Waldez Ludwick); Crioula (musical sob direção de Stella Miranda),Charles Baudelaire, Minha Terrível Paixão.(Adaptação : Elisa Lucinda - Direção de Luiz Pillar)
- Os monólogos: A Hora Agá / Pode Café / O Mar não tá pra Preto / Há uma na Madrugada / Coisa de Mulher / Sem Telefone mas com Fio / Te Pego pela Palavra / Aviso da Lua que menstrua / Dona da Frase / Luz do Só / Sósias dos Sonhos / O Semelhante / Capixabaéchique / Euteamo, Semelhante/ Parem de Falar Mal da Rotina.
Os Livros:
- A Lua que menstrua - Produção independente
- Sósia dos sonhos - Produção independente
- Semelhante - Ed. Record 1a ed. em 1995
- Eu te amo e suas estréias - Ed. Record - lançado em 1999
- A Menina Transparente - Ed. Salamandra;
- "Coleção Amigo Oculto" - Ed. Record. Composta pelos livros:
- órfão famoso - 2002
- Lili, a rainha das escolhas - 2002
- menino inesperado - 2002
- 50 Poemas Escolhidos pelo Autor/ - Edições Galo Branco - 2004
Os Cds de Poesia:
- "O Semelhante" - Rob Digital - nas vozes de Elisa Lucinda, Zezé Polessa, Paulo José, Mauro Salles e Juliano, filho da poeta). Lançado em 1998
- "Euteamo e suas estréias" - Rob Digital - nas vozes de Elisa Lucinda, Marília Pêra, Marília Gabriela, Irene Ravache, Alessandra Negrini, Zeca Baleiro e José Ignácio Xavier (marido da poeta). Lançado em 2001
Treinamento na área de Recursos Humanos :
IBM, Bahiasul, Banco Real, Petrobrás, Fiocruz, Clínica São Vicente, Conarh, ABRH, Grupo Gife, Ministério da saúde, Ministério da Educação, Secretarias de estados e municípios, Prefeituras de São Paulo, Santo André, Porto Alegre, Vitória, São João Del Rei, Salvador e outras.
Carreira Internacional:
Tournées anuais: México, Cuba, Argentina, Canadá, Espanha, Holanda, Portugal, Croácia, Moçambique e Cabo Verde.
Fonte:
Poesia Viva Produções
Mãe Beata de Iyemonjá
BEATRIZ MOREIRA COSTA, nascida em 20 de janeiro de 1931, em Cachoeira do Paraguaçu, Recôncavo Baiano, filha de Maria do Carmo e OscarMoreira, utiliza-se da mãe e do pai como exemplos de vida.
"Minha mãe chamava-se do Carmo, Maria do Carmo. Ela tinha muita vontade de ter uma filha. Um dia, ela engravidou. Acontece que, num desses dias, deu vontade nela de comer peixe de água doce. Minha mãe estava com fome e disse: 'Já que não tem nada aqui, vou para o rio pescar.' Ela foi para o rio e, quando estava dentro d'água pescando, a bolsa estourou. Ela saiu correndo, me segurando, que eu já estava nascendo. E eu nasci numa encruzilhada. Tia Afalá, uma velha africana que era parteira do engenho, nos levou, minha mãe e eu, para casa e disse que ela tinha visto que eu era filha de Exu e Yemanjá. Isso foi no dia 20 de Janeiro de 1931. Assim foi o meu nascimento.”
Sua mãe, mulher negra trabalhadora, mas de saúde frágil, legou à sua filha grande respeito à pessoa humana e seu pai, Oscar, a característica de saber lidar com as ferramentas do trabalho e da vida.
Na década de 50 Beatriz muda-se para a cidade de Salvador, ficando sob os cuidados de sua tia Felicíssima e seu marido, Anísio Agra Pereira (Anísio de LogumEde, babalorixá) , na Avenida Ribeiro dos Santos na Sete Portas. Durante dezessete anos, Beata (como é conhecida desde a infância) foi abian de seu tio, que posteriormente falece levando-a a procurar Mãe Olga do Alaketu, que a inicia no candomblé para o orixá Iemanjá no terreiro Ilê Maroia Laji (Alaketu – Salvador).
Mulher que mesmo presa a princípios tradicionais em razão da influência de uma família patriarcal torna-se de vanguarda ao fazer cursos de teatro amador e participar de grupos folclóricos. Casa-se com Apolinário Costa, seu primeiro namorado, com quem teve quatro filhos, Ivete, Maria das Dores, Adailton e Aderbal Moreira Costa. Sua mãe Maria do Carmo antes de falecer tutela a filha a sua yalorixá , Olga do Alaketu.
Em 1969 Biata separa-se de seu marido e migra para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida para ela e sua prole, história comum a tantas outras mulheres negras nordestinas, o sonho da cidade grande.
Sem apoio da família consangüínea, é na família-de-santo que encontra acolhimento, a história se repete no sentimento de resistência do quilombo contemporâneo que reconstrói a auto-estima desta mulher negra.
Para as famílias tradicionais da Bahia da época, mulher separa era mulher de ninguém, ainda mais com quatro filhos. Canta-se um samba, um samba-de-roda baiano que “samba bom é de madrugada, mulher sem homem não vale nada”, por certo não se enquadrava nesse perfil a figura dessa mulher ímpar.
Cria seus filhos com muita dificuldade, porém de modo digno, exercendo várias funções para prover o sustento próprio e dos filhos, como empregada doméstica, costureira, manicure, cabeleireira, pintora e artesã.
Com todas essas atividades e uma jornada árdua de mulher negra nordestina e separada, estigmas fortes para a época, não esquece seus laços religiosos, atuando em várias comunidades de terreiro no Rio de Janeiro mantendo e preservando sua descendência ancestral religiosa negra.
Começa a trabalhar como figurante na Rede Globo de Televisão, atividade resultante de contatos já existentes em Salvador, onde participou da novela “Verão Vermelho”, filmada na referida cidade. Logo após, consegue trabalho como costureira na mesma empresa, onde se aposenta e mantêm contatos com amigos até os dias de hoje.
Entre as décadas de 70 e 80 Biata faz várias viagens a Salvador para cumprir seus deveres religiosos com a Casa de Candomblé na qual foi iniciada, visto que, mesmo atuando religiosamente em casas de parentes religiosos no Rio de Janeiro, seu cordão umbilical estava preso à sua casa matriz, precisava saciar sua sede na fonte.
Durante este espaço de tempo a yalorixá, Olga do Alaketu, tem importância fundamental em sua vida, aconselhando e acolhendo a filha que lhe foi tutelada pela mãe biológica, a figura da mãe ancestral se faz presente. Ao entregar Biata à Olga, Maria do Carmo dá o sentido de continuidade a figura maternal, a mãe africana que acolhe e sustenta seus filhos, característica ainda hoje preservada nas comunidades religiosas de matriz africana.
Em 20 de abril de 1985 Mãe Olga do Alaketu vem ao Rio de Janeiro outorgar a sua filha o direito de ser chamada de “Mãe”, mais uma vez o ciclo se repete, o Ilê Omi Oju Arô (Casa das Águas dos Olhos de Oxóssi) casa em que Mãe Biata passa a ter o cargo de yalorixá. Transmite à comunidade de forma natural toda essa experiência de luta, absorvida facilmente por todos, dando início à participação ativa em discussões sobre questões raciais, sociais e políticas, tendo maior atuação nas questões de gênero, com enfoque principalmente sobre as mulheres negras.
Assim como Biata recebe de seu pai e de sua mãe ensinamentos de vida, ela consegue propagar á sua comunidade religiosa os mesmos princípios. O Ilê Omi Oju Arô, comunidade na qual Biata é sacerdotisa suprema, atua em diversas frentes sociais: religião e saúde, luta contra qualquer forma de discriminação e contra a intolerância religiosa, cultura da paz, acesso à educação, ações afirmativas, saúde da população negra, movimento de diálogo inter-religioso, direitos humanos, movimento de mulheres negras e movimento negro.
Vejamos agora em detalhes a atuação dessa líder religiosa:
ATIVIDADES RELIGIOSAS E SOCIAIS
1985 – Fundação da Comunidade de Terreiro Ilê Omi Ojú Arô (Casa das Águas dos Olhos de Oxóssi) de Beata de Iemanjá, pela sua Yalorixá Mãe Olga do Alaketu, em 20 de abril, no bairro de Miguel Couto, Nova Iguaçu;
1987 – Sedia em sua Comunidade de Terreiro o Terceiro Encontro Regional da Tradição dos Orixás, em 15 de novembro.
1989 – Sedia em sua Comunidade de Terreiro o Décimo Encontro Regional das Religiões Afro-brasileiras em 28 de novembro.
1991 – Recebe da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro moção honrosa e congratulação pela militância e resistência da Cultura, Religião, Cidadania e Dignidade da população Afro-brasileira. Recebe em 20 de novembro Diploma de Personalidade de Destaque da Comunidade Negra no mandado do Deputado Estadual Marcelo Dias no Rio de Janeiro.
1992 – Fórum Global – 92 - participa como cicerone e mentora religiosa no Encontro Mundial pela Paz – RJ. Inicia o Projeto Social Ação e Viver em 18 de maio – viabilizando a participação de jovens carentes da região e integrando-os á Comunidade de Terreiro. Miguel Couto, Nova Iguaçu. Recebe em 13 de maio Diploma de Honra ao Mérito da Prefeitura do Município de Belford Roxo – RJ.
1994 – Realiza no Ilê Omi Oju Arô dentro do Projeto Ação e Viver o Fórum de Debates “Cidadania x Violência”. Miguel Couto, Nova Iguaçu.
1998 – Inicia em julho no Ilê Omi Oju Arô o Projeto Comunidade Solidária do Governo Federal, capacitando profissionalmente na área de informática vinte e cinco jovens carentes da região e integrando-os à Comunidade de Terreiro. Promove em dezembro na sua Comunidade de Terreiro a campanha “Natal sem fome” com distribuição de roupas, brinquedos e cestas básicas à população carente da região.
1999 – Inicia em março a segunda turma do Projeto Comunidade Solidária capacitando profissionalmente jovens carentes da Baixada Fluminense. Miguel Couto, Nova Iguaçu. Realiza oficinas de percussão para jovens de Comunidade de Terreiro da Baixada Fluminense. Miguel Couto, Nova Iguaçu.
2000 – Comemora quinze anos da fundação de seu Terreiro intensificando as atividades sócio-culturais. Abril, Miguel Couto – Nova Iguaçu. Lançamento do Cd “Cantigas de Orixás”. Abril, Miguel Couto – Nova Iguaçu. Realização de oficinas de candomblé para não iniciados, universidades, escolas públicas, eventos culturais e turísticos. Abril, Miguel Couto – Nova Iguaçu.
2001 – Abertura do Rock in Rio, tenda por um mundo melhor.
2002 – Parceria com o Projeto Ató Ire – Saúde dos Terreiros. Parceria com a Ong Criola, que desenvolve projetos para mulheres negras. Lançamento do Projeto Oku Abo. Parceria com a Secretaria de Cultura de Nova Iguaçu. Recebe o Prêmio Orilaxé, do Afro Reggae. Rio de Janeiro.
2004 – Implanta em sua Comunidade de Terreiro o “Projeto Acelera Jovem” em parceria com o Viva-Rio, voltado para jovens entre 15 e 25 anos que ainda não completaram o ensino fundamental. Outubro, Miguel Couto – Nova Iguaçu. 2004 – Recebe o Prêmio Ossain. Novembro, Rio de
Janeiro. 2004 – Participa da peça “Olhos D'água”, de autoria de Ismael Ivo que retratava a discriminação racial através das vivencias de três atrizes negras, uma delas Mãe Biata. Casa da Cultura de Berlim, Alemanha.
2005 – Recebe a Medalha de Mérito Cívico Afro-brasileiro, homenagem conferida pela Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares. Maio, São Paulo.
2007 - Mãe Biata de Iyemonjá recebe o prêmio Bertha Lutz no Senado Federal.
OBRAS PUBLICADAS
1997 – Lança em 30 de abril o seu livro de contos “Caroço de Dendê, Sabedoria dos Terreiros” - RJ.
2000 – Lança “Tradição e Religiosidade”, in O livro da saúde das mulheres negras.Org. Jurema Werneck. Rio de Janeiro.
2005 – Publica em o livro “As histórias que minha avó contava” – RJ
ENCONTROS, SEMINÁRIOS E CONGRESSOS
1988 – Conferência Estadual da Tradição dos Orixás – Debates Ecumenismo e Cultos Afros. Maio, Rio de Janeiro.
Encontro da tradição dos Orixás, Religiões Afro-Brasileiras e seus Adeptos. Setembro, Rio de Janeiro.
1991 – Feira do Livro Afro-brasileiro – Seminário Xangô, o mito herói africano no Brasil. Outubro, Rio de janeiro.
1992 – Seminário “Planeta Fêmea Ética e Espiritualidade: Mulher e sagrado no século XXI”. Junho, Rio de Janeiro.
Encontro “Médicas, bruxas e curandeiras ”. Outubro, Tibá Bom Jardim – Rio de Janeiro.
1994 – Simpósio sobre Cultura e Religiosidade. Setembro, Berlim – Alemanha.
Semana da Cultura Brasileira – Outubro, Berlim – Alemanha.
Religião e Resistência Cultural – Outubro, Berlim – Alemanha.
1995 – Seminário Ervas Medicinas como Terapia. Novembro – Rio de Janeiro.
Pot-pourrit de Saúde – Folhas, Fé e Cura. Novembro - Rio de Janeiro.
300 Anos de Zumbi – Memórias de Resistência. Novembro – Rio de Janeiro.
1996 – Vigília Inter-religiosa de Oração pela Paz e pela Vida. Outubro – Minas Gerais.
1997 - Seminário A Comunidade Afro-brasileira e a Epidemia do HIV (AIDS). Julho, Rio de Janeiro.
Seminário em homenagem a Paulo Freire. Julho, Rio de Janeiro.
Feira de Exposição Afro-esotérica do Rio de Janeiro. Setembro.
Seminário Superando o Racismo. Outubro, São Paulo.
Seminário Candomblés Ontem e Hoje. Outubro, São Paulo.
Jornada Lélia Gonzalez. Dezembro, São Luiz – Maranhão.
1998 – Fórum Espiritual das Religiões Mundial. Julho, São Francisco – Califórnia/EUA.
Seminário Internacional: Rota dos Escravos. Agosto, Brasília / DF.
Seminário African Amerindian Performances From Brazil . Novembro, Nova Iorque/EUA.
2002 – 1º Simpósio Internacional de Contadores de História. Maio, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC/RJ.
2004 – Fórum Cultural Mundial – Seminário A Casa Brasil África. Agosto, São Paulo.
2005 – IV Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e Saúde. Abril, Belém do Pará.
Encontro com o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Nelson Jobim, em conjunto com mais quatro yalorixás para defender a constitucionalidade das cotas para a população negra na UERJ. Abril, Brasília/DF.
Encontro com o Procurador Geral da República, com o objetivo de reivindicar a implementação da Lei 10.639-03, que determina o ensino da História e Cultura Afro-brasileira nas escolas nacionais. Abril, Brasília/DF.
Encontro com a ministra Nilcéia Freire para a exposição das necessidades das mulheres integrantes das Comunidades de Terreiro. Abril, Brasília/DF.
Seminário Promoção da Igualdade Racial no Mercado de Trabalho. Abril, Brasília/DF.
2005 – Primeira Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Julho/agosto, Brasília/DF.
2005 – Congresso Internacional de Tradição e Cultura Iorubá. Agosto, Uerj.
Sacerdote supremo do candomblé origem ketu-iorubá.
Pessoa que ainda não passou pela iniciação no candomblé.
Sacerdotisa suprema do candomblé de origem ketu-iorubá.
Mãe Meninazinha de Oxum
BREVE HISTÓRICO:
Maria do Nascimento - Iyalorixá da Sociedade Civil e Religiosa do Ilê Omolu Oxum. Nasceu, em Ramos, no Rio de Janeiro, no dia dezoito de agosto de 1964. Filha de Maria da Luz do Nascimento e Luiz Pedro do Nascimento. Neta de Davina Maria Pereira.
Ilê Omolu Oxum - A comunidade-terreiro Ilé Omolu Osùn instalou-se em São Matheus, em 1968, dando continuidade à Casa-Grande de Mesquita, primeira comunidade-terreiro de candomblé a fixar-se na Baixada Fluminense (1937). A Casa-Grande de Mesquita, que primeiramente funcionou na Rua Barão de São Félix, na Saúde, foi uma das primeiras comunidades-terreiro, de que se tem notícia, estabelecida na cidade do Rio de Janeiro, à época de João Alabá (pai-de-santo de Tia Ciata e Carmen do Xibuca). Sua importância deve-se ao fato de muito bem representar os vínculos criados entre líderes religiosos e tradicionais famílias baianas e cariocas, ainda no princípio do século; fator determinante para a criação de uma música urbana carioca, o samba.
A importância do Ilê Omolu Oxum deve-se ao fato deste ter abrigado, após o fechamento de Mesquita, parte dos filhos-de-santo lá iniciados, sendo portanto, juntamente com a Casa de Seu Rui, as duas únicas comunidades-terreiro de candomblé que hoje dão continuidade à Casa de João Alabá.
Sobre os projetos sociais - Em 1988, a comunidade-terreiro Ilé Omolu Osùn constituiu-se numa sociedade civil, a Sociedade Civil Religiosa Ilé Omolu Osùn, com a finalidade de organizar um núcleo administrativo que possibilitasse a representação jurídica da comunidade-terreiro frente aos órgãos governamentais e não-governamentais.
Essa representação tem como intuito validar a implantação de projetos em prol do desenvolvimento social, cultural, econômico e político da região onde a comunidade-terreiro está instalada, bairro de São Matheus, município de São João de Meriti (a comunidade-terreiro foi uma das primeiras construções erguidas na localidade).
Sua intenção é transformar o papel meramente religioso da comunidade-terreiro em prol de uma representação mais eficaz na disseminação do acesso à (in)formação entre a população da região - tanto do terreiro quanto do entorno, populações estas que se somam.
Ao longo desse anos, a Sociedade realizou os seguintes projetos: criação de um consultório médico, que oferece os serviços de clínica geral e ortopedia gratuitos, atendendo a cerca de 10 pessoas duas vezes por semana, totalizando atendimento de 40 pacientes/mês - conta ainda com a colaboração do PU para a realização de exames complementares; consultório de psicologia, com atendimento uma vez por semana; atendimento jurídico, uma vez por semana; exibição mensal de filmes (16 mm) e vídeos - ficção e documentário - que tratam os seguintes temas: relações raciais e de gênero, sociedade e cultura afro-brasileiras, religião, meio-ambiente, etc; distribuição de cestas básicas; implantação de um núcleo de pesquisa e documentação sobre sociedade e cultura afro-brasileiras - Memorial Iyá Davina -, que abriga exposição permanente de fotografias e objetos, biblioteca e videoteca, inscrito nas leis de incentivo à cultura estadual e federal; e a realização dos seguintes cursos: curso de yorubá, artesanato (fabricação de cartões em papel vegetal), corte e costura, introdução à técnica do richilieu, culinária e, por fim, os de marcenaria e ladrilharia, bem como, culinária, dentro do Projeto de Capacitação Profissional para Jovens em Risco Social do Programa Comunidade Solidária.
Dessa forma, a Instituição firma-se hoje como um centro de capacitação social reconhecido pela (e, por isso, referência para a) comunidade.
Sobre Iyá Davina - Iyá Davina foi a primeira filha-de-santo de Procópio Xavier de Souza, mais conhecido como Procópio d'Ogum. O número de iniciadas, além da famosa feijoada anual oferecida a Ogum - patrono do terreiro -, que mais tarde ficou conhecida como "feijão do Procópio", bastante contribuiram para o recohecimento do terreiro. Donald Pierson, cita mesmo uma festa com mais de quatrocentos espectadores no Ilê Ogunjá [cf. Pierson, Brancos e Pretos na Bahia]. Outro fator fundamental para o seu reconhecimento foi o fato de ter participado da legitimação do candomblé, durante o Estado Novo, momento de intensa perseguição às religiões afro-brasileiras, tendo seu terreiro sido invadido pelo famoso delegado de polícia Pedrito Gordo, e Procópio sido preso. Tal acontecimento - caso Pedrito - registrou o nome de Procópio na história popular baiana, chegando mesmo a fazer parte de uma letra de samba-de-roda:
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"Procópio tava na sala,
Esperando santo chegá,
Quando chegou seu Pedrito,
Procópio passa pra cá.
Galinha tem força n'asa,
O galo no esporão,
Procópio no candomblé
Pedrito no facão".
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Caso que conferiu-lhe notórias citações em obras de ficção - Tenda dos Milagres é um bom exemplo -, quanto em produção bibliográfica científica - O candomblé da Bahia [Roger Bastide], Orixás [Pierre Verger], etc.
Davina Maria Pereira nasceu no ano de 1880 na cidade de Salvador - BA. No dia 24 de julho de 1910, foi iniciada por Procópio Xavier de Souza, Procópio d'Ogun, no Ilê Ogunjá, situado no Baixão, antigo Matatu Grande, em Salvador. Filha de Omolu e Oxalá, muda-se, ainda na década de 1910, para a cidade do Rio de Janeiro, juntamente com seu marido, Theophilo Pereira, ogã do Ilê Ogunjá. Possuíra, no bairro da Saúde, residência na qual abrigará inúmeros conterrâneos de mudança para o Rio, ficando popularmente conhecida como Consulado Baiano. Já nesta época, existia no Rio de Janeiro, um famoso terreiro de candomblé, situado na Rua Barão de São Félix, 174, dirigido pelo renomado pai-de-santo João Alabá. A este, Iyá Davina irá se ligar. Alguns historiadores dizem que tal terreiro foi fundado com a ajuda de Rodolfo Martins de Andrade, Bamboxê Obitikô. João Alabá foi iniciado na Bahia (desconhece-se em qual terreiro). Cultuava grande amizade com tradicionais sacerdotes baianos, entre estes, Joaquim Vieira da Silva, Tio Joaquim. Em sua casa foram iniciados Carmem do Xibuca e mebros de sua família, assim como da família de Tia Ciata [de sobrenome Jumbeba]. Com o falecimento de João Alabá (1924), verifica-se o fechamento da casa da Rua Barão de São Félix. Dona Pequena d'Oxaguian e seu marido Vicente Bankolê herdam os assentamentos de Alabá, e com a ajuda de Iyá Davina, criam a Sociedade Beneficiente da Santa Cruz de Nosso Senhor do Bonfim, primeiramente instalada em Bento Ribeiro, e posteriormente transferida para Mesquita, Nova Iguaçu [1931]. Com o falecimento de Tia Pequena, Iyá Davina se tornará a última Iyalorixá da Casa-Grande de Mesquita, que foi a primeira roça de candomblé a instalar-se na Baixada Fluminense.
Iyá Davina participará da fundação de inúmeros terreiros no Rio de Janeiro, entre estes: o Bate-Folha de João Lessengue, o Axé Opô Afonjá de Mãe Agripina , além de manter estreitas relações com outros terreiros estabelecidos na cidade, entre os quais citamos: o Terreiro de São Gerônimo e Santa Bárbara, da falecida Iyalorixá Senhorazinha. Fato que bem ilustra os vínculos criados entre migrantes baianos e cidadãos cariocas, determinante para a criação, preservação e manutenção de novos e velhas tradições culturais, entre estas o samba.
Após o falecimento de Iyá Davina, sua neta e herdeira espiritual, Meninazinha d'Oxum, Mãe Naná, com a ajuda dos integrantes mais velhos da Casa-Grande de Mesquita, transfere-se para a localidade da Marambaia, distrito de Tinguá, Nova Iguaçu - RJ, onde funda a Sociedade Civil e Religiosa Ilê Omolu Oxum. Por lá, o ilé egbè permanceu até a década de 70, quando transfere-se, definitivamente, para o bairro de São Matheus, em São João de Meriti - casa onde ainda hoje reside. O cargo de Iyalorixá lhe foi atribuído antes mesmo do nascimento, pelo orixá de sua avó, Omolu. Pela avó, foi preparada para substituí-la à época de seu falecimento. O que, também, lhe renderá as mais diversas citações na produção bibliográfica sobre antropologia das religiões afro-brasileiras (ver: Os Candomblés Antigos do Rio de Janeiro [Agenor Miranda], Faraimará-O Caçador traz Alegria: Mãe Stella 60 Anos de Iniciação, La Quête de L'Afrique dans le Candomblé au Brésil [Stefania Capone], etc.
Sobre o Memorial Iyá Davina - o Memorial Iyá Davina é o primeiro centro de preservação de memória no distrito de São Matheus, Município de São João de Meriti, município fluminense que concentra o maior contingente percentual da população negra do Estado do Rio de Janeiro, constituindo-se num canal de preservação e reconstrução da memória histórica das religiões afro-brasileiras, de seus personagens integrantes ou, mais especificamente, de uma parte da história da cultura e sociedade brasileiras.
Algumas considerações sobre Mãe Meninazinha d'Oxum
e sobre seus empreendimentos
"Da Bahia para o Bairro Saúde, da Saúde para a Baixada: Iyá Davina percorreu o roteiro da implantação do candomblé da Bahia em terras fluminenses. Sua neta de sangue e filha de santo Meninazinha faz da casa de São Matheus um pólo irradiador de atendimento à comunidade e de divulgação da religião dos orixás. Heranças ampliam-se, laços se multiplicam. No mundo dos homens, tradições se entrelaçam.
Omolu, Rei dos Senhores da Terra, dono da cabeça de Davina, deu o nome no dia 24 de julho de 1910 - dia em que Xangô é festejado em todos os terreiros -, na casa de Procópio de Ogunjá. Oxum, mãe benevolente, alegria do sangue das mulheres fecundas, dona da cabeça de Meninazinha, deu o nome no dia 10 de julho de 1960. Cinqüenta anos de distância nada são no tempo infinito dos orixás.
"Minha mãe quando estava grávida, já sabia que vinha uma menina que, mais cedo ou mais tarde, teria de fazer o santo para herdar o cargo da minha avó." É pela medição dos sacerdotes e sacerdotisas que se expande o axé. A tradição oral transmite a memória do sagrado. No tempo dos homens, é preciso que haja o registro de documentos e organização de acervos para que seja facilitado o acesso dos leigos à cultura afro-brasileira. O Memorial Iyá Davina cumpre essa função de mediação entre tempos antigos e tempos de hoje, entre estudiosos de fora e gente de santo, entre terreiro e sociedade mais ampla. Assim como o Ilê Omolu Oxum assegura a manutenção das tradições, e desenvolve importante papel social em meio à comunidade". [Monique Augras, Professora-Titular da PUC-RJ]
"Mãe Naná [Meninazinha], detentora de um axé, isto é, iyalaxé de um dos terreiros mais tradicionais do Rio de Janeiro e que por tradição é descendente de várias origens que a própria hospitalidade nagô privilegia.
Ponto de referência da aristocracia nagô dos que aqui chegaram, no Rio de Janeiro, hoje representa ainda este ponto de união, cortesia e sabedoria.
Este museu é o primeiro no Rio de Janeiro que conta um pouco da história afro-brasileira e que necessariamente, por todos os atributos desse axé, é altamente representativo.
Axé a todos os organizadores e, em especial, a Mãe Meninazinha, querida e respeitada por todos" [José Flávio Pessoa de Barros, Professor-Titular da UFRJ e da UERJ]
"A palavra "memorial" aplicada a uma personalidade eminente do universo afro-brasileira é, por si mesma, auspiciosa. Sabemos que os caminhos da memória publica ou oficial no Brasil costumam excluir as personagens de destaque das classes economicamente subalternas, mais que, no entanto podem dispor de recursos simbólicos excepcionais. O patrimônio dos cultos afro-brasileiros é um bom exemplo. Revaloriza-lo memorialisticamente é acentuar a continuidade institucional centrada na dinâmica de construção de uma identidade para o escravo e seus descendentes, esses que formaram ao longo dos séculos a base da população brasileira. Iyá Davina é, assim, ancestral, a ser devidamente cultuado". [Muniz Sodré, Professor-Titular da UFRJ]