Ouço o eco gemendo,
Os gritos de dor,
Dos navios negreiros.
Ouço o meu irmão,
Agonizando a fala,
Lamentando a carne
Pisada,
Massacrada,
Corrompida.
Sinto a dor humilhante,
Do pudor sequestrado,
Do brio sem arbítrio,
Ao longe atirado,
Morto e engavetado,
Na distância do tempo.
Dói-me a dor do negro,
Nas patas do cavalo,
Dói-me a dor dos cavalos.
Arde-me o sexo ultrajado
Da negra cativa,
Usada no tronco,
Quebrada e inservida,
Sem prazer de sentir,
Sem desejos de vida,
Sem sorrisos de amor,
Sem carícias sentidas,
Nos seus catorze anos de terra.
Dói-me o feto imposto ao negro útero virgem.
Dói-me a falta de registro,
do negro nunca visto
Além das senzalas,
No comer no cocho,
No comer do nada.
Sangra-me o corte na pele,
Em abertas feridas,
De dores doídas,
No estalo da chibata.
Dói-me o nu do negrinho
Indefeso escravozinho,
Sem saber de razões.
Dói-me o olho esbugalhado,
No rosto suado,
No medo cravado,
No peito do menino.
Dói-me tudo e sobre tudo,
O imporque do fato.
MEUS PÊSAMES SINCEROS A MENTIRA MULTICOLOR DA PRINCESA ISABEL.
Mas contudo,
Além de tudo
E muito mais por tudo,
Restou-me invulnerável,
Um imutável bem:
Ultrajadas as raízes,
Negados os direitos,
Ninguém roubou-me o lacre da pele.
Nenhum senhor. NINGUÉM!
Geni Mariano Guimarães (Axé - Antologia Contemporânea de Poesia Negra Brasileira, Global Editora, Organização Paulo Colina).
Pois é... Quem defende a sua cultura, suas origens, há de se revoltar pelas lembranças do que aconteceu no passado. Mas pode ter certeza que esses irmãos que sofreram, que passaram por tudo isso, estão num lugar muito especial, olhando por nós, e vendo que após tudo isso ter acontecido o sofrimento ainda não acabou. Ainda temos muito para evoluir! Não só me interessou o texto pelo seu conteúdo como também pelo nome do autor, que possui o meu nome! ;-)
ResponderExcluirA luta não acabou e nem acabará!
ResponderExcluirAvante irmãos!